Pesquisa Participativa
Essa pesquisa, como o próprio nome sugere, implica
necessariamente na participação, tanto do pesquisador no contexto, grupo ou
cultura que está a estudar, quanto dos sujeitos que estão envolvidos no
processo da pesquisa.
Em
oposição à pesquisa tradicional, na qual o pesquisador gera a ideia para o
projeto, define os métodos e interpreta a realidade, considerando que é uma
tarefa profissional de especialistas habilitados para conduzir e controlar
todas as etapas da pesquisa e redigir, ao final, um texto técnico pessoal de
comunicação dos resultados alcançados. Na pesquisa participativa o conhecimento
é gerado pelas pessoas da comunidade ou da organização que coletam e analisam
as informações, utilizando métodos adequados a sua compreensão, visando
promover ações possíveis e factíveis que mudem ou melhorem suas vidas.
A
pesquisa participativa assume que as pessoas, membros de comunidades, detêm
conhecimentos e, potencialmente, são capazes de identificar seus problemas, ter
consciência de suas necessidades e das condições que os determinam, esclarecer
o contexto em que vivem e formular os meios necessários para afrontá-los, desde
que auxiliados adequadamente para reunir o conjunto de forças da coletividade.
No que diz respeito aos instrumentos para coleta de
dados adotados por pesquisadores participantes, podemos relacionar como mais
recorrentes as entrevistas semi-estruturadas (coletivas e individuais), a
análise documental e a observação participante. Entretanto, também podem ser
encontradas pesquisas que se utilizam de entrevistas estruturadas, da técnica
de sociodrama e mesmo do questionário, sendo esse último, no contexto da
pesquisa participante, rejeitado por alguns.
Desse
modo, vimos que a pesquisa aqui abordada tem como princípio uma ação
transformadora que privilegia a melhoria das condições de vida dos indivíduos
envolvidos com ela; estes que serão objetos de estudo e ao mesmo tempo
pesquisadores, construtores de um novo saber que supera os saberes construídos
no cotidiano da vida comunitária.
Pesquisa-Ação
A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa participante
engajada, em oposição à pesquisa tradicional, que é considerada como
“independente”, “não-reativa” e “objetiva”. Como o próprio nome já diz, a
pesquisa-ação procura unir a pesquisa à ação ou prática, isto é, desenvolver o
conhecimento e a compreensão como parte da prática. É, portanto, uma maneira de
se fazer pesquisa em situações em que também se é uma pessoa da prática e se
deseja melhorar a compreensão desta (ENGEL, 2000, p.182).
A pesquisa-ação é uma metodologia que pretende preencher a lacuna
entre a teoria e a prática sendo constituída por etapas como o levantamento de
perguntas, revisão bibliográfica, observação, levantamento de necessidades,
hipóteses, plano de ação, avaliação dos resultados, publicação dos resultados e
retorno destes aos participantes. Alguns instrumentos e procedimentos que se
encaixam em uma ou mais etapas citadas são a observação, o levantamento de
necessidades, questionários, entrevistas semi-estruturadas, entrevista aberta,
questionários, análise do discurso, análise do sujeito coletivo, grupo focal, Diagnóstico Rápido e Dialogado (DRD), entrevista
painel, diário de campo/ notas de campo, filmagens e gravações de grupos.
Estudo de caso
Atualmente,
esse tipo de pesquisa é muito utilizado, podendo ser feito em várias áreas do
conhecimento, como na saúde, na área jurídica, jornalística, da economia, etc. Pode
ser realizado com uma pessoa especificamente, ou uma comunidade, um grupo e até
mesmo um evento, entre outros.
Tem
como objetivos compreender os acontecimentos do caso, esclarecer os processos a
serem realizados e construir/propor novas ações. Existem três tipos conforme
esses objetivos: intrínseco (que possibilita conhecer melhor o caso em si), o
instrumental (visa esclarecer uma questão ou determinar uma teoria) e o
coletivo (tenta entender diversos estudos de caso instrumentais).
O
plano de pesquisa permite esquematizar quatro fases: 1º) Seleção dos casos e
negociação do acesso; 2º) Trabalho de campo (coleta sistemática das
informações); 3º) Organização dos registros (arquivamento padrão); 4º) Redação
do relatório (didático e descritivo).
Porém,
existem algumas objeções: alguns autores defendem que o Estudo de Caso não é
propriamente uma metodologia, e que também possui características pouco
consistentes e bem particulares, impossibilitando generalizações.
Mesmo
assim, é considerado uma metodologia muito eficaz em estudos exploratórios ou
estudos piloto (fase preparatória, que analisa toda a literatura disponível
sobre um assunto e gera a definição do caso), além de gerar hipóteses para
pesquisas posteriores, o que é considerado muito positivo.
Etnografia
Essa
metodologia consiste na descrição da análise da cultura dos indivíduos ou
comunidades (observação das interações sociais) e na interação direta com as
pessoas na sua vida cotidiana, suas ações e significados atribuídos a elas. Ela
se caracteriza pela descrição de um grupo especifico, descrevendo informações
singulares do mesmo.
As
principais fontes, antigamente, eram as teorias evolucionistas (que não são
mais utilizadas). Com o tempo, se foi mudando as abordagens, utilizando a
comparação de uma sociedade com a outra, posteriormente, a descrição das
crenças das comunidades e, por fim, o racionalismo antropológico, onde o pesquisador
participa (por um período) daquela comunidade, vive, estuda, mas sem ideias pré-concebidas,
utilizando-se da observação participativa, tendo uma devolutiva para o grupo.
Em
1980-1990, optaram-se por abordar mais subjetividade/ legitimidade nos estudos.
As
coletas geralmente são feitas a partir de observações e relatos feitos em
campo, autobiografias e diário de campo. Os instrumentos são: papel, caneta, gravador
e filmadora.
Pesquisa experimental e ensaio
clínico
Pesquisa
experimental:
Possui
etapas de planejamento, sendo elas:
-
Formular um problema (de maneira clara, objetiva e precisa);
- Construção de hipóteses;
-
Operacionalização das variáveis;
-
Definição do plano experimental (de um única variável “one-way” ou planos
fatoriais: testa várias hipóteses para chegar num resultado mais confiável);
-
Determinação dos sujeitos: beneficiar a população que o sujeito da pesquisa faz
parte, dar uma devolutiva;
-
Randomização (aleatoriamente: simples ou pareada: dentro de pares semelhantes
um é experimental e o outro é o controle);
-
Determinação do ambiente (o pesquisador deve conhecer muito bem o ambiente para
poder analisar suas possíveis influências na pesquisa, este ambiente pode ser o
laboratório ou campo); e coleta de dados (manipulação das condições, observação
dos efeitos produzidos);
-
Análise e interpretação dos dados (análise estatística para analisar os
impactos das diferenças entre grupos controle e experimental);
-
Redação do relatório (introdução, referenciais teóricos, materiais e métodos,
resultados obtidos/discussão, conclusão).
*
O sujeito da pesquisa não precisa ser um ser humano, podem ser animais ou
objetos.
Ensaio
clínico:
O
ensaio clínico pode ser definido como uma pesquisa experimental. Existem diversas
modalidades, a mais conhecida é o Ensaio Randomizado Cego.
Suas
etapas são:
-
Formulação do problema
-
Construção de hipóteses
-
Definição dos objetivos
-
Seleção dos participantes (pelos critérios de inclusão e exclusão)
-
Medição das variáveis basais (dispor de informações prévias acerca dos
participantes, principalmente em estudos com poucos participantes)
-
Definição dos procedimentos do tratamento
-
Randomização
-
Cegamento (ensaio duplo-cegos)
-
Acompanhamento de aderência ao protocolo
-
Medição do desfecho
*
Interrupção do ensaio (Se os danos superam os benefícios, não há porque
mantê-lo. Se há indícios de que o ensaio não irá possibilitar a obtenção de
respostas)
-
Análise dos resultados (por testes de diferença ou teste não paramétricos).
Tipos de análise
Análise do discurso:
A análise do
discurso pode ser utilizada de diversas formas que atendem a objetivos muito
diferentes. Isso ocorre devido ao discurso não ter sentido único, por isso é
analisado de formas variadas atendendo a necessidade do pesquisador. Procura
analisar o uso da linguagem em discursos contextualizados de pessoas que
interagem, e os processos pelos quais dão forma linguística e produzem sentido
nas suas interações sociais.
Tendências: 1ª
considera o discurso regendo-o por normas (estudando a gramática), tendo por
finalidade investigar as propriedades formais da língua. 2ª analisa o discurso
situado num contexto sócio histórico e leva em consideração o sentido elaborado
no momento da produção do discurso.
Análise do conteúdo:
A análise de conteúdo visa decompor as unidades léxicas ou
temáticas de um texto, codificadas sobre algumas categorias, compostas por
indicadores que permitam uma enumeração das unidades e, a partir disso,
estabelecer inferências generalizadoras.
O critério fundamental de análise de conteúdo é o fragmento
singular do texto: a palavra, termo ou lexema, considerando-os como a menor
unidade textual e, como tal, passível de se analisar a frequência com que
aparecem no texto, a fim de se estabelecer correlações significativas entre as
unidades e extrair conteúdo relevante da mensagem. Para alguns, esta é uma
técnica exclusivamente quantitativa.
Análise
de Narrativa
A análise de narrativa pode ter uma variedade
de formas em pesquisa. Nela, existem duas orientações fundamentais, a qual a
primeira se deriva no formalismo estruturalista e se baseia na coerência de um
texto ser encontrado em formas, sintaxe e códigos; e a segunda analisa a
narrativa a partir das experiências vividas, produzidas nas interações sociais
e especialmente entrevistas clínicas.
A análise formal-estrutural parte de
princípios relacionados ao código, gramática e sintaxe, procurando extrair os
significados do texto usando as regras preestabelecidas.
Os etnometodológos estudam as narrativas como
conversações situadas, extraindo as unidades de análise dependentes do contexto
em que são ditas, encontrando os fundamentos que expliquem o significado da
narrativa, partindo de pressupostos e regras que a descrevam. As análises
etnometodológicas das narrativas e a antropologia das comunicações assumem a
forma de análise de conversação.
As análises de conversação são eminentemente
descritivas da fala dos participantes, pressupondo que os proseadores constroem
uma realidade social nas intercomunicações interpessoais.
Nas narrativas clínicas, encontra-se 2 formas
de exploração da narrativa para se obter informações sobre a experiência humana
vivida e sobre o modo como alguém constrói o sentido de suas ações. A primeira
é pré-formatada pelo investigador, extraindo informações requeridas para
verificar sua hipótese; e a segunda, elaborada pelo narrador que relata sua
historia pessoal, da qual se retira o sentido que ele próprio empresta à
realidade.
Diferenças
entre esses tipos de análise:
A análise do conteúdo, análise do discurso e análise de narrativas
são modalidades de interpretação de textos que, apoiando-se em diferentes
orientações filosóficas, propõem formas de análise fundamentadas nas diversas
teorias linguísticas, na semiótica, na hermenêutica, no estruturalismo, no
pós-estruturalismo, no interacionismo e na análise da conversação, a fim de se
extrair significados expressos ou latentes de um texto.
Para
Bardin (1979), a análise de conteúdo
abrange as iniciativas de explicitação, sistematização e expressão do conteúdo
de mensagens, com a finalidade de se efetuarem deduções lógicas e justificadas
a respeito da origem dessas mensagens (quem as emitiu, em que contexto e/ou
quais efeitos se pretende causar por meio delas).
A análise de discurso visa refletir sobre
as condições de produção e apreensão da significação de textos e compreender o
modo de funcionamento, os princípios de organização e as formas de produção
social do sentido (Minayo, 2000). Trabalhando
o ponto de articulação da língua com a ideologia e procura explicitar o modo
como se produzem as ilusões do sujeito e dos sentidos (os pontos de
estabilização referencial e os de subjetivação), analisando como se dá esse
sentido e os processos e o influenciam.
A análise de narrativa objetiva obter informações
sobre a experiência humana vivida e relatada, a fim de apreender e compreender
o sentido de suas ações. Baseia-se em regras pré-estabelecidas.
História de vida
Essa
metodologia se inseriu no meio acadêmico em 1920, na escola de Chicago. Trata-se
de uma coleta de dados, onde se tem a subjetividade do mundo da pessoa, onde o
próprio sujeito faz a avaliação de sua vida e também acaba refletindo o que
passou. Ter um vínculo com o entrevistado é importante para a história de vida
ser coletada de modo que se sinta confortável a abrir partes de sua vida. É uma
metodologia de uma pesquisa qualitativa, podendo ser oral, escrito ou no método
biográfico. Os instrumentos utilizados são gravação ou entrevista.
Podemos
classificar essa metodologia em quatro tipos: objetivo, subjetivo, relato ou
história de vida (estória) ou documento (história). Os gêneros são divididos em
biografia, etnografia, autobiografia, testemunho e história oral.
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa Qualitativa em Ciências Humanas e Sociais. 4ºed.
Petrópolis. RJ: Vozes, 2011.
ENGEL, G. I. Pesquisa-ação. Curitiba: Educar, n. 16, p. 181-191. 2000.
GIL,
Antonio Carlos. Como elaborar Projetos
de Pesquisa. 5º Ed., São Paulo: Atlas, 2010.
Santos, R. F. Pesquisa Participante: o que é, como se faz. Publicado em mar/2012. Disponível em: http://baixadacarioca.wordpress.com/2012/03/19/pesquisa-participante-o-que-e-como-se-faz/ Acesso em: Nov/2013.
Soares,
L. Q.; Ferreira, M. Q. Pesquisa
Participante como Opção Metodológica para a Investigação de Práticas de Assédio
Moral no Trabalho. Psicologia
(Florianópolis), v. 6, p. 85-110, 2006.
Maria Angelica, Mayara e Milena
Maria Angelica, Mayara e Milena
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