domingo, 24 de novembro de 2013

Metodologias de Pesquisa

Pesquisa Participativa

Essa pesquisa, como o próprio nome sugere, implica necessariamente na participação, tanto do pesquisador no contexto, grupo ou cultura que está a estudar, quanto dos sujeitos que estão envolvidos no processo da pesquisa.

Em oposição à pesquisa tradicional, na qual o pesquisador gera a ideia para o projeto, define os métodos e interpreta a realidade, considerando que é uma tarefa profissional de especialistas habilitados para conduzir e controlar todas as etapas da pesquisa e redigir, ao final, um texto técnico pessoal de comunicação dos resultados alcançados. Na pesquisa participativa o conhecimento é gerado pelas pessoas da comunidade ou da organização que coletam e analisam as informações, utilizando métodos adequados a sua compreensão, visando promover ações possíveis e factíveis que mudem ou melhorem suas vidas.

A pesquisa participativa assume que as pessoas, membros de comunidades, detêm conhecimentos e, potencialmente, são capazes de identificar seus problemas, ter consciência de suas necessidades e das condições que os determinam, esclarecer o contexto em que vivem e formular os meios necessários para afrontá-los, desde que auxiliados adequadamente para reunir o conjunto de forças da coletividade.

No que diz respeito aos instrumentos para coleta de dados adotados por pesquisadores participantes, podemos relacionar como mais recorrentes as entrevistas semi-estruturadas (coletivas e individuais), a análise documental e a observação participante. Entretanto, também podem ser encontradas pesquisas que se utilizam de entrevistas estruturadas, da técnica de sociodrama e mesmo do questionário, sendo esse último, no contexto da pesquisa participante, rejeitado por alguns.

Desse modo, vimos que a pesquisa aqui abordada tem como princípio uma ação transformadora que privilegia a melhoria das condições de vida dos indivíduos envolvidos com ela; estes que serão objetos de estudo e ao mesmo tempo pesquisadores, construtores de um novo saber que supera os saberes construídos no cotidiano da vida comunitária.

Pesquisa-Ação

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa participante engajada, em oposição à pesquisa tradicional, que é considerada como “independente”, “não-reativa” e “objetiva”. Como o próprio nome já diz, a pesquisa-ação procura unir a pesquisa à ação ou prática, isto é, desenvolver o conhecimento e a compreensão como parte da prática. É, portanto, uma maneira de se fazer pesquisa em situações em que também se é uma pessoa da prática e se deseja melhorar a compreensão desta (ENGEL, 2000, p.182).

 A pesquisa-ação é uma metodologia que pretende preencher a lacuna entre a teoria e a prática sendo constituída por etapas como o levantamento de perguntas, revisão bibliográfica, observação, levantamento de necessidades, hipóteses, plano de ação, avaliação dos resultados, publicação dos resultados e retorno destes aos participantes. Alguns instrumentos e procedimentos que se encaixam em uma ou mais etapas citadas são a observação, o levantamento de necessidades, questionários, entrevistas semi-estruturadas, entrevista aberta, questionários, análise do discurso, análise do sujeito coletivo, grupo focal, Diagnóstico Rápido e Dialogado (DRD), entrevista painel, diário de campo/ notas de campo, filmagens e gravações de grupos.

Estudo de caso

Atualmente, esse tipo de pesquisa é muito utilizado, podendo ser feito em várias áreas do conhecimento, como na saúde, na área jurídica, jornalística, da economia, etc. Pode ser realizado com uma pessoa especificamente, ou uma comunidade, um grupo e até mesmo um evento, entre outros.

Tem como objetivos compreender os acontecimentos do caso, esclarecer os processos a serem realizados e construir/propor novas ações. Existem três tipos conforme esses objetivos: intrínseco (que possibilita conhecer melhor o caso em si), o instrumental (visa esclarecer uma questão ou determinar uma teoria) e o coletivo (tenta entender diversos estudos de caso instrumentais).

O plano de pesquisa permite esquematizar quatro fases: 1º) Seleção dos casos e negociação do acesso; 2º) Trabalho de campo (coleta sistemática das informações); 3º) Organização dos registros (arquivamento padrão); 4º) Redação do relatório (didático e descritivo).

Porém, existem algumas objeções: alguns autores defendem que o Estudo de Caso não é propriamente uma metodologia, e que também possui características pouco consistentes e bem particulares, impossibilitando generalizações.

Mesmo assim, é considerado uma metodologia muito eficaz em estudos exploratórios ou estudos piloto (fase preparatória, que analisa toda a literatura disponível sobre um assunto e gera a definição do caso), além de gerar hipóteses para pesquisas posteriores, o que é considerado muito positivo.

Etnografia

Essa metodologia consiste na descrição da análise da cultura dos indivíduos ou comunidades (observação das interações sociais) e na interação direta com as pessoas na sua vida cotidiana, suas ações e significados atribuídos a elas. Ela se caracteriza pela descrição de um grupo especifico, descrevendo informações singulares do mesmo.

As principais fontes, antigamente, eram as teorias evolucionistas (que não são mais utilizadas). Com o tempo, se foi mudando as abordagens, utilizando a comparação de uma sociedade com a outra, posteriormente, a descrição das crenças das comunidades e, por fim, o racionalismo antropológico, onde o pesquisador participa (por um período) daquela comunidade, vive, estuda, mas sem ideias pré-concebidas, utilizando-se da observação participativa, tendo uma devolutiva para o grupo.

Em 1980-1990, optaram-se por abordar mais subjetividade/ legitimidade nos estudos.

As coletas geralmente são feitas a partir de observações e relatos feitos em campo, autobiografias e diário de campo. Os instrumentos são: papel, caneta, gravador e filmadora.

Pesquisa experimental e ensaio clínico

Pesquisa experimental:

Possui etapas de planejamento, sendo elas:

- Formular um problema (de maneira clara, objetiva e precisa);

 - Construção de hipóteses;

- Operacionalização das variáveis;

- Definição do plano experimental (de um única variável “one-way” ou planos fatoriais: testa várias hipóteses para chegar num resultado mais confiável);

- Determinação dos sujeitos: beneficiar a população que o sujeito da pesquisa faz parte, dar uma devolutiva;

- Randomização (aleatoriamente: simples ou pareada: dentro de pares semelhantes um é experimental e o outro é o controle);

- Determinação do ambiente (o pesquisador deve conhecer muito bem o ambiente para poder analisar suas possíveis influências na pesquisa, este ambiente pode ser o laboratório ou campo); e coleta de dados (manipulação das condições, observação dos efeitos produzidos);

- Análise e interpretação dos dados (análise estatística para analisar os impactos das diferenças entre grupos controle e experimental);

- Redação do relatório (introdução, referenciais teóricos, materiais e métodos, resultados obtidos/discussão, conclusão).

* O sujeito da pesquisa não precisa ser um ser humano, podem ser animais ou objetos.

Ensaio clínico:

O ensaio clínico pode ser definido como uma pesquisa experimental. Existem diversas modalidades, a mais conhecida é o Ensaio Randomizado Cego.

Suas etapas são:

- Formulação do problema

- Construção de hipóteses

- Definição dos objetivos

- Seleção dos participantes (pelos critérios de inclusão e exclusão)

- Medição das variáveis basais (dispor de informações prévias acerca dos participantes, principalmente em estudos com poucos participantes)

- Definição dos procedimentos do tratamento

- Randomização

- Cegamento (ensaio duplo-cegos)

- Acompanhamento de aderência ao protocolo

- Medição do desfecho

* Interrupção do ensaio (Se os danos superam os benefícios, não há porque mantê-lo. Se há indícios de que o ensaio não irá possibilitar a obtenção de respostas)

- Análise dos resultados (por testes de diferença ou teste não paramétricos).


Tipos de análise

Análise do discurso:

A análise do discurso pode ser utilizada de diversas formas que atendem a objetivos muito diferentes. Isso ocorre devido ao discurso não ter sentido único, por isso é analisado de formas variadas atendendo a necessidade do pesquisador.  Procura analisar o uso da linguagem em discursos contextualizados de pessoas que interagem, e os processos pelos quais dão forma linguística e produzem sentido nas suas interações sociais.

Tendências: 1ª considera o discurso regendo-o por normas (estudando a gramática), tendo por finalidade investigar as propriedades formais da língua. 2ª analisa o discurso situado num contexto sócio histórico e leva em consideração o sentido elaborado no momento da produção do discurso.

Análise do conteúdo:

A análise de conteúdo visa decompor as unidades léxicas ou temáticas de um texto, codificadas sobre algumas categorias, compostas por indicadores que permitam uma enumeração das unidades e, a partir disso, estabelecer inferências generalizadoras.

O critério fundamental de análise de conteúdo é o fragmento singular do texto: a palavra, termo ou lexema, considerando-os como a menor unidade textual e, como tal, passível de se analisar a frequência com que aparecem no texto, a fim de se estabelecer correlações significativas entre as unidades e extrair conteúdo relevante da mensagem. Para alguns, esta é uma técnica exclusivamente quantitativa.

Análise de Narrativa

A análise de narrativa pode ter uma variedade de formas em pesquisa. Nela, existem duas orientações fundamentais, a qual a primeira se deriva no formalismo estruturalista e se baseia na coerência de um texto ser encontrado em formas, sintaxe e códigos; e a segunda analisa a narrativa a partir das experiências vividas, produzidas nas interações sociais e especialmente entrevistas clínicas.

A análise formal-estrutural parte de princípios relacionados ao código, gramática e sintaxe, procurando extrair os significados do texto usando as regras preestabelecidas.

Os etnometodológos estudam as narrativas como conversações situadas, extraindo as unidades de análise dependentes do contexto em que são ditas, encontrando os fundamentos que expliquem o significado da narrativa, partindo de pressupostos e regras que a descrevam. As análises etnometodológicas das narrativas e a antropologia das comunicações assumem a forma de análise de conversação.

As análises de conversação são eminentemente descritivas da fala dos participantes, pressupondo que os proseadores constroem uma realidade social nas intercomunicações interpessoais.

Nas narrativas clínicas, encontra-se 2 formas de exploração da narrativa para se obter informações sobre a experiência humana vivida e sobre o modo como alguém constrói o sentido de suas ações. A primeira é pré-formatada pelo investigador, extraindo informações requeridas para verificar sua hipótese; e a segunda, elaborada pelo narrador que relata sua historia pessoal, da qual se retira o sentido que ele próprio empresta à realidade.

Diferenças entre esses tipos de análise:

A análise do conteúdo, análise do discurso e análise de narrativas são modalidades de interpretação de textos que, apoiando-se em diferentes orientações filosóficas, propõem formas de análise fundamentadas nas diversas teorias linguísticas, na semiótica, na hermenêutica, no estruturalismo, no pós-estruturalismo, no interacionismo e na análise da conversação, a fim de se extrair significados expressos ou latentes de um texto.

Para Bardin (1979), a análise de conteúdo abrange as iniciativas de explicitação, sistematização e expressão do conteúdo de mensagens, com a finalidade de se efetuarem deduções lógicas e justificadas a respeito da origem dessas mensagens (quem as emitiu, em que contexto e/ou quais efeitos se pretende causar por meio delas).

A análise de discurso visa refletir sobre as condições de produção e apreensão da significação de textos e compreender o modo de funcionamento, os princípios de organização e as formas de produção social do sentido (Minayo, 2000).          Trabalhando o ponto de articulação da língua com a ideologia e procura explicitar o modo como se produzem as ilusões do sujeito e dos sentidos (os pontos de estabilização referencial e os de subjetivação), analisando como se dá esse sentido e os processos e o influenciam.

A análise de narrativa objetiva obter informações sobre a experiência humana vivida e relatada, a fim de apreender e compreender o sentido de suas ações. Baseia-se em regras pré-estabelecidas.


História de vida

Essa metodologia se inseriu no meio acadêmico em 1920, na escola de Chicago. Trata-se de uma coleta de dados, onde se tem a subjetividade do mundo da pessoa, onde o próprio sujeito faz a avaliação de sua vida e também acaba refletindo o que passou. Ter um vínculo com o entrevistado é importante para a história de vida ser coletada de modo que se sinta confortável a abrir partes de sua vida. É uma metodologia de uma pesquisa qualitativa, podendo ser oral, escrito ou no método biográfico. Os instrumentos utilizados são gravação ou entrevista.

Podemos classificar essa metodologia em quatro tipos: objetivo, subjetivo, relato ou história de vida (estória) ou documento (história). Os gêneros são divididos em biografia, etnografia, autobiografia, testemunho e história oral.



Referências Bibliográficas

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa Qualitativa em Ciências Humanas e Sociais. 4ºed. Petrópolis. RJ: Vozes, 2011.

ENGEL, G. I. Pesquisa-ação. Curitiba: Educar, n. 16, p. 181-191. 2000.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 5º Ed., São Paulo: Atlas, 2010.

Santos, R. F. Pesquisa Participante: o que é, como se faz. Publicado em mar/2012. Disponível em: http://baixadacarioca.wordpress.com/2012/03/19/pesquisa-participante-o-que-e-como-se-faz/ Acesso em: Nov/2013.


Soares, L. Q.; Ferreira, M. Q. Pesquisa Participante como Opção Metodológica para a Investigação de Práticas de Assédio Moral no Trabalho. Psicologia (Florianópolis), v. 6, p. 85-110, 2006.


Maria Angelica, Mayara e Milena


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